quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Zen e a Arte de Manutenção de Motocicletas, de Robert M. Pirsig


A viagem pelas estradas a perder a vista dos Estados Unidos da América tornou-se um arquétipo, pelo menos a partir de On the Road, de Jack Kerouac e do filme Easy Rider. Neste romance ela é empreendida por um pai e o seu filho -, pilotos que preferem as estradas secundárias às auto-estradas, completamente expostos ao ambiente -, e transforma-se numa odisséia pessoal e filosófica e num mergulhar até as raízes da arte de viver. Ao introduzir questões filosóficas elaboradas, de uma forma que se torna deveras acessível e apelativa para o leitor comum, Pirsig cria uma filosofia prática, assente no bom senso e na intuição tanto como na racionalidade, baseada num novo valor a que chamou "qualidade". Ambiciona igualmente, por essa via, constituir uma ponte possível entre pensamento ocidental e Oriente. O cuidar atento e empenhado dispensado por este aventureiro das vastas extensões americanas à sua motocicleta é a metáfora para uma tentativa de valorizar a tecnologia no nosso mundo, onde Buda existe tão perfeitamente nos circuitos digitais de um computador como nas pétalas de uma flor. O segredo reside na atitude. Uma obra polêmica que desde a sua primeira edição não deixou de inspirar milhões de pessoas em todo o mundo até hoje. (Orelha de apresentação da edição portuguesa).

É interessante que sabiam que este livro atingiu o recorde do Guinness ao ser recusado por 121 editoras?! Pois é...

Vamos por partes: este livro tem todos os ingredientes para ser o maior mico do meio literário. Só fala de filosofia (SÓ), é muito difícil de ler (é daqueles livros que nos acompanha ou adormecido na mesa de cabeceira durante muito tempo) e é grande. Aposto que as massas olham para este livro de lado.

No entanto, depois de editado, tornou-se um best-seller... Daqueles que ocupam lugares marcantes! Por quê?

Este livro foi uma indicação da estimada amiga Jasete, poeta paranaense de muita qualidade. Aliás, foi um bom conselho e acho que valeu a pena toda a análise. Porque este é daqueles livros para ir lendo aos poucos e estudando, interpretando, nem que seja por meia hora e só dê para duas páginas. Porque é um livro que nos obriga a pensar.

Achei uma boa sugestão e foi uma ótima leitura. Primeiro, porque é diferente: o fato de ser um livro filosófico muda um pouco os meus hábitos de leitura; fala-nos de uma viagem pelos EUA, pai e filho na sua motocicleta (e o que poderia acrescentar beleza a este romance mais do que uma viagem de motocicleta?); as personagens estão muito bem postas, aliás, todo o livro está muito bem posto.

Maravilhosamente, o autor conecta a filosofia com as personagens, o que torna essa busca filosófica uma espécie de thriller. Trata-se de perseguir fantasmas (cuja definição perceberão ao ler o livro), fantasmas que definem a filosofia e a nossa maneira de viver! Em vez de a personagem ir de Paris a Londres, percorre os caminhos da mente e de toda a maneira de pensar, embrenhando-se em conceitos filosóficos que se tornam compreensíveis pelo leitor através das metáforas e comparações utilizadas. Aliás, o próprio título (que à primeira vista pode parecer estranho) é uma metáfora, como explica o resumo do livro.

Tornar a filosofia em algo que se transforme em uma cruzada, uma busca pelo verdadeiro sentido, nos faz pensar e nos libertar. Depois, o autor unifica a estes fatos as personagens, principalmente o narrador e Fedro, revelando uma única personagem de personalidade múltipla. Esta conexão e esta dualidade numa única pessoa tornam o livro interessantíssimo.

O fim... Bem, adorei o fim, porque simboliza tudo, porque é tão fácil perceber qual é a mensagem. E é muito bonito, sem dúvida, embora o preâmbulo do autor, logo nas primeiras páginas, esteja mal posicionado (uma vez que revela grande parte da conclusão e da interpretação do livro!).

Concluindo, gostei e aconselho. Não é um livro fácil de ler, não senhor, mas está muito bem criado e muito, muito interessante. Ensina-nos a descascar uma laranja como se estivéssemos a dirigir uma orquestra!

É daqueles desafios para o leitor que, ao chegar ao fim, sente-se diferente e sente essa viagem que empreendeu. Leiam com muita atenção, agora com as férias poderão dedicar o tempo a este livro, porque eu acho que vale muito a pena!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Autoridades policiais rodoviárias da Argentina achacom harleyros brasileiros

Prezado Senhor Cônsul

Desejo informar ao Governo Argentino, por seu intermédio, que o turista brasileiro tem sofrido constantes achaques por parte da Polícia Rodoviária (Caminera) aos pilotos de Harley-Davidson em visita ao seu país durante todo o ano de 2011.

De forma sistemática somos parados pela polícia argentina, de tal forma que parece que o posto rodoviário à frente foi avisado da nossa viagem pelo posto anterior.

Nessas paradas, nos solicitam toda a documentação, como carta de habilitação, documentos do motocíclo, carta verde e atestado de vacina contra a febre amarela, visto de entrada no país, que são os documentos de praxe nos deslocamentos de turistas motorizados em solo argentino.

Então começa o nosso martírio, pois são solicitados outros documentos que não são exigidos ao turista como, habilitação internacional, a falta de “estampillas consulares”, vacina contra tétano ou H1N1 e por aí vai. Então depois de 30 minutos de idas e vindas nos informam que teremos que aguardar o oficial comandante para que ele decida o caso.

O tempo começa a passar e quando consideram que já estamos aborrecidos o suficiente começam com insinuações de suborno que nunca é aceita por menos de US$ 50,00 por quatro motocicletas. Quando são mais motocicletas, o preço sobe proporcionalmente.

Isso aconteceu em todo o trajeto entre São Boja e Santa Fé. O nosso destino era Santiago de Chile, mas na altura de Uruguaiana retornei ao Brasil e fui para o Uruguai, em cujo país não tive nenhum contratempo durante 15 dias de turismo.

Estou com uma viagem programada para Córdoba e Mendoza e, sinceramente, estou com muito receio de ser extorquido novamente pelas autoridades policiais da Argentina.

Pelo exposto desejo saber como proceder e qual o seu conselho para essa questão muito delicada.

Sendo o que se apresenta para o momento subscrevo-me,

Atenciosamente,

Luiz Pedro Nunes Vieira Di Lucca

Harley-Owners Group BR 4161877

Ao

Cônsul da Argentina em Curitiba

Senhor Hector Gustavo Vivacqua

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

"Choque de gestão" ficou só na promessa

O tucano Beto Richa foi eleito governador do Paraná prometendo iniciar um novo ciclo político no estado, balizado por um “choque de gestão” desde o primeiro dia à frente do Palácio Iguaçu. A meta era reduzir as despesas do custeio da máquina administrativa e “fazer mais e melhor gastando menos”. Passados mais de dez meses de gestão, porém, a austeridade prometida ficou apenas no discurso. E, em vez de se distanciar das práticas condenáveis na sua campanha a governador em 2010, lançou mão de muitas delas.


Capitalismo ou democracia

Piñera

Blog do Emir Sader, sociólogo e cientista, mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP - Universidade de São Paulo.

13/11/2011

Até um certo momento os grandes empresários mantinham um baixo perfil. Quase tinham vergonham de serem tão ricos em sociedades tão pobres. Ou também preferiam não chamar a atenção sobre as fontes da sua riqueza.

A passagem à hegemonia neoliberal, com a criminalização do Estado e da política, e a exaltação do mercado e das empresas, promoveu também a imagem dos grandes empresários. Começaram a proliferar as biografias e auto-biografias de empresários. Todos teriam nascido pobres e ascendido com muito trabalho, enfrentando todas as dificuldades, exibindo-se assim como exemplos para todos das possibilidades de ascensão ampla e irrestrita.

Da apologia dos empresários como modelo de cidadãos se passou às tentativas de sua promoção como bons governantes. Se deram certo dirigindo suas empresas, teriam que dar certo como governantes. Ainda mais que passou ao centro da agenda política o tema dos “excessivos gastos do Estado”. Ninguém melhor do que um empresário para racionalizar os gastos do Estado.

Como se a lógica da busca do lucro das empresas privadas se aplicasse ao Estado. A empresa privada busca lucros e dar satisfação aos acionistas. O Estado tem que defender os direitos da cidadania, de todos, privilegiando especialmente os mais pobres. Roberto Campos dizia que as empresas estatais deveriam dar lucro, da mesma forma que as empresas privadas. Isto é, queria que o direito de todos fosse prejudicado em favor da eficiência. Os serviços públicos, por exemplo, deveriam obedecer a esses critérios, ao invés de garantir o direito do acesso de todos à educação, à moradia, à saúde publica, à luz, à agua.

Berlusconi tornou-se o modelo mesmo do tipo de empresário de sucesso que se propôs a governar o pais com os mesmos critérios das suas empresas. Como muitos, ele encabeça um grande conglomerado de empresas, de distintos setores, incluindo a Fininvest e o monopólio dos meios de comunicação. Este aspecto, multiplicado pela mídia estatal, permitiu aumentar ainda mais o controle sobre a formação da opinião pública.

Durante quase duas décadas Berlusconi dirigiu a Itália, coincidindo com a decadência do país, misturado com casos reiterados – e assumidos – de escândalos sexuais e de corrupção, promovendo a vulgaridade e o escracho como estilo de política. Não foi a oposição, nem as mobilizações populares ou as denúncias que terminaram derrubando Berlusconi, mas ataques especulativos, mostrando que nem um grande empresário está imune a eles.

Pinera se elegeu no Chile com a mesma fama de empresário de sucesso. Impulsionado pela ditadura militar - em que seu irmão foi ministro do Trabalho do Pinochet, tristemente célebre por ter introduzido o tema da “flexibilização laboral” -, o grupo se expandiu, nas asas da expansão da Lan Chile, chegou até a comprar o Colo Colo, mesmo que torcendo para outro time.

Pinera gozou de uma lua-de-mel, mas logo começaram a se acumular crises, com mobilizações sociais contra o governo de diferentes setores, até que os estudantes expressaram o descontentamento com a privatização da educação publica – realizada por Pinochet -, catalizando o descontentamento popular. A capacidade de mobilização dos estudantes – que conseguiu agregar o movimento sindical – gerou uma crise política nacional, com o desgaste radical da popularidade de Piñera. De nada lhe adiantou sua capacidade de gerenciamento empresarial. O Estado é outra coisa, pertence à esfera política, é radicalmente diferente do mercado.

Como aqui, os governos neoliberais governavam para 1/3 da população, isto é, para o mercado, para os que tem poder aquisitivo garantido. Para isso basta um empresariado ou alguém com mentalidade empresarial. As políticas de inclusão social promoveram o resgate da política, da esfera dos direitos, do povo como cidadania. Disso os empresários, com sua mentalidade de busca do lucro, não entendem. A lógica do lucro é contraditória com a democracia.

Postado por Emir Sader às 19:19

domingo, 6 de novembro de 2011

De volta ao Brasil-Colônia

Posted By Leandro Fortes On 4 de novembro de 2011 @ 11:47 In Política | 24 Comments

O problema não está no sistema eleitoral, mas na qualidade do eleitor. Quem vota em Paulo Maluf, por exemplo, não vai deixar de ser um mau caráter do voto proporcional para virar uma reserva moral do voto distrital. O que certa direita nervosa pretende, com essa propaganda infantil sobre as benesses do voto distrital, é minar as representações coletivas no Parlamento, sobretudo aquelas vinculadas aos movimentos sociais. A crescente estruturação desses movimentos, notadamente os de caráter progressista e de origem popular, tem gerado uma ampliação razoável do espectro de representação política no Legislativo e, ato contínuo, pressionado os demais poderes a se curvar a outros interesses, que não só aos dos suspeitos de sempre.

Numa recente palestra que dei aos acampados do MST, em Brasília, esses milhares de trabalhadores que a mídia agora anuncia não mais existirem, ouvi de uma liderança uma explicação definitiva sobre a relação apavorada das elites brasileiras com a dinâmica do movimento: “Eles não estão mais somente preocupados com o fato de ter gente ocupando terras, mas, principalmente, porque essa gente está pensando, discutindo, se preparando para algo maior”. Esse algo maior é a política. O capital eleitoral dos movimentos sociais é enorme, na verdade, incalculável, mas a dispersão territorial e de objetivos comuns ainda gera distorções de caráter colonial. O fato de a bancada ruralista – de latifundiários, escravagista, reacionária – ser maior do que a de trabalhadores rurais, é só a mais impressionante delas.

A submissão dos governos do PT, ditos progressistas, às tradicionais alianças políticas de governabilidade, mantém o País estagnado na poça cultural do velho acordo das elites nacionais, donde se cria e recria paraísos falsamente plurais de participação popular, desde que sob o comando das mesmas forças de outrora, sejam os coronéis de terras, seja a velha mídia, esta que ora decide que ministros deve a presidenta colocar ou não a correr.


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[1] Maria Rita Kehl e a ditadura da felicidade: http://www.cartacapital.com.br/blog/sociedade/a-ditadura-da-felicidade/

[2] Mino Carta: A doença de Lula e os efeitos da pregação midiática: http://www.cartacapital.com.br/blog/politica/efeitos-da-pregacao-midiatica/

[3] Cynara Menezes: O que é ser de esquerda hoje: http://www.cartacapital.com.br/blog/politica/ser-gauche-na-vida/

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Redução do poder do CNJ trará impunidade ( FSP)

A impunidade em casos de crimes cometidos por juízes tende a aumentar se o poder de investigação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) for restringido, disse a corregedora Eliana Calmon, em debate ontem à noite no auditório da Folha.

Há algumas semanas, ela foi alvo de uma polêmica envolvendo o Judiciário e o ministro do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso, ao afirmar que existem bandidos "escondidos atrás da toga" na Justiça brasileira.

A afirmação foi feita em resposta a uma ação da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) no STF, que tenta limitar a atuação do CNJ.

Na ocasião, Peluso divulgou uma nota de repúdio às declarações da ministra.

Ontem, ela explicou que sua afirmação não foi genérica, mas reafirmou que há caso de bandidos que tentam se esconder atrás da Justiça. E citou um exemplo de um pistoleiro que virou juiz e depois foi punido pela Justiça.

"Não temos uma sociedade de santos, temos uma sociedade que tem um esgarçamento moral muito forte", afirmou a corregedora, que foi aplaudida por três vezes durante suas falas.

Segundo Calmon, o país tem tradição patrimonialista e o "Estado é efetivamente espoliado sem muito pudor".

O evento teve como tema a atuação do CNJ. Estavam presentes o presidente da Apamagis (Associação Paulista de Magistrados), Paulo Dimas Mascaretti, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

O encontro foi mediado pelo repórter especial da Folha Frederico Vasconcelos.

O presidente da Apamagis defendeu a ação proposta pela AMB que pode restringir o campo de atuação do CNJ.

Para Mascaretti, os magistrados devem ser julgados pelas corregedorias regionais, sendo revisados pelo CNJ em caso de recurso.

Segundo ele, "99,5% dos juízes" brasileiros não se envolvem em irregularidades, de acordo com as estatísticas dos órgão de investigação.

Já Torres disse que, na elaboração da emenda constitucional que criou o CNJ, os legisladores deixaram claro que o conselho deve ter amplo poder de investigação para evitar o corporativismo dos tribunais nos Estados.

domingo, 30 de outubro de 2011

Web permite democracia direta mas tem limite e preocupa ator tradicional

Em Seminário Nacional sobre Participação Social, possibilidades de ação e representação política por meio das redes sociais geram uma das discussões mais acaloradas. Para debatedores, internet é revolucionária e permite participação inédita, mas caráter por vezes 'desorganizado' e necessidade de incidência concreta na realidade são vistos como desafios.

BRASÍLIA - O potencial transformador e participativo dos movimentos espontâneos criados a partir da rede mundial de computadores, sem vínculo com partidos políticos e movimentos sociais tradicionais, garantiu uma das discussões mais polêmicas do 1º Seminário Nacional de Participação Popular, encerrado nesta sexta-feira (28), em Brasília.

Promovido pela Secretaria-Geral da Presidência, o seminário reuniu representantes do governo e dos movimentos sociais, majoritariamente tradicionais, para avaliarem os processos de participação social e debater perspectivas para os próximos anos.

Por isso, parte do público encarou com reservas a constatação dos conferencistas de que a rede mundial de computadores é, hoje, o terreno mais fértil para o desenvolvimento de novas formas de participação democrática.

Participantes questionaram os limites e riscos das novas mídias para a democracia, a amplitude da exclusão digital em um país desigual como o Brasil, a impossibilidade das novas mídias dialogarem com analfabetos e idosos, entre outros problemas.

“O processo que estamos vivendo exige alta carga de aprendizado, sim. Vivemos um período que permite que um grande número de pessoas gere informação e cultura, após cem anos apenas recebendo e consumindo. É claro que isso irá tirar as pessoas da sua zona de conforto. Mas não podemos deixar de encarar esse desafio”, provocou Daniela Silva, da comunidade Transparência Hacker.

Segundo ela, a internet é revolucionária, independentemente da forma como é utilizada. “Não depende de como se usa essa tecnologia, como alguns acreditam. É um meio que, por si só, permite que muito mais gente participe, fale o que pensa. Por isso é transformador e propicia um processo nunca visto antes de distribuição do poder”, afirmou.

O coordenador do curso de Comunicação Digital da Unisinos, Daniel Bittencourt, também instou os presentes a buscar compreender a legitimidade das mobilizações espontâneas que surgem na rede, descoladas de partidos políticos ou organizações tradicionais dos movimentos sociais.

Segundo ele, da Primavera Árabe à ação pela retirada dos calçados de determinada marca que usava pele animal como matéria prima, essas mobilizações pela rede significam novas formas de a sociedade tomar suas decisões.

Daniel, que foi um dos co-criadores da Wikicidades, plataforma digital que incentiva a participação dos cidadãos de Porto Alegre na tomada de decisão municipal, afirmou que o modelo de política tradicional tem um teto de participação, que pode ser rompido com a utilização das novas tecnologias. “Porto Alegre é uma cidade com 1,5 milhão de habitantes e só 15 mil participam do Orçamento Participativo”, exemplificou.

O secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Cezar Alvarez, concordou que existem limites para a política participativa. “As pessoas têm o direito, inclusive, de não se manifestarem, de preferirem ficar em casa sem sair da cadeira. Esse direito também é legítimo”, observou.

Professor da Faculdade de Comunicação da UFBA, Wilson Gomes criticou o padrão de governo eletrônico reproduzido no mundo. “No norte, existe uma verdadeira obsessão por transparência. No sul, por participação. Entretanto, os governos eletrônicos, tanto no sul quanto no norte, tanto em governos de esquerda quanto de direita, privilegiam a transparência e são fracos em participação”.

O acadêmico discutiu também qual o conceito de participação deve ser adotado em avaliações do tipo. “O que importa não é só participar, mas como qualificar a participação. A inclusão de novos atores sociais, por exemplo, já qualifica a adoção das novas mídias, porque os atores fortes, tradicionais, já têm seus espaços garantidos”.

Wilson observou, ainda, que o Estado não sabe lidar com o cidadão isolado. “O governo sabe lidar com conselhos, coletivos. Reúne representantes de um grupo, de outro, e monta um concselho. Mas como ouvir aqueles cidadãos que não estão organizados nos movimentos sociais tradicionais? É esta questão que os overnos precisam repsonder”, provocou.

O chefe do Gabinete Digital do Governo do Rio Grande do Sul, Vinícius Wu, acrescentou que o debate sobre uso e aprimoramento das novas tecnologias será a maior fonte de tensão entre governo e sociedade no futuro próximo. “É impossível, hoje, pensar em democracia sem pensar em movimentos da rede”, afirmou.

Wu saiu em defesa dos movimentos sociais, bastante representados no seminário, que contestaram o discurso da maioria de que o futuro da participação política popular está na rede de computadores. “Não podemos subestimar o poder de mobilização dos movimentos sociais brasileiros que, inclusive, diferenciam o país do restante do mundo”, afirmou.

Entretanto, propôs também que os governos discutam políticas para falar com os desorganizados, com aqueles que não foram tocados por nenhuma forma de participação tradicional.

Seminário debaterá democratização da mídia


Mídia, democracia, regulação, liberdade de imprensa e de expressão: estes serão os temas centrais do seminário, promovido pela Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS), Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom) e Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, no dia 3 de novembro, em Porto Alegre. O evento reunirá nomes como Franklin Martins, Paulo Henrique Amorim, Luiza Erundina e Venício Lima.

Data: 26/10/2011 Mídia, democracia, regulação, liberdade de imprensa e de expressão: estes serão os temas centrais do seminário promovido pela Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS), Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom) e Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, no dia 3 de novembro, em Porto Alegre. O evento será na Escola Superior da Magistratura (rua Celeste Gobbato, nº 229, bairro Praia de Belas). A programação do encontro é a seguinte:

8h30min – credenciamento

9h às 12h – Abertura e 1º Painel

Democracia e Liberdade de imprensa

Presidente de mesa: Leoberto Narciso Brancher – Conselheiro de Comunicação da AJURIS

Participantes:

Claudio Baldino Maciel – Desembargador TJRS

Paulo Henrique Amorim – Jornalista do site Conversa Afiada

Pascual Serrano – Jornalista espanhol

Breno Altmann – Jornalista e Diretor da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom)

Juremir Machado – Jornalista do Correio do Povo e Rádio Guaíba e professor da PUCRS


15h às 18h – 2º Painel e Encerramento

Regulação e Liberdade de expressão

Presidente de Mesa: Ronaldo Adi Barão Castro da Silva – Assessor da Presidência da Ajuris

Participantes:

Eugênio Facchini Neto – Desembargador do TJRS e professor da Escola Superior da Magistratura e da PUCRS

Franklin Martins – Jornalista e Ex-ministro da Comunicação Social do Governo Lula

Venício Lima – Jornalista, Sociólogo e Professor da UNB

Luiza Erundina – Deputada Federal PSB

Elton Primaz – Jornalista, chefe de Redação do jornal O Sul

Bia Barbosa – Jornalista e integrante do Conselho Diretor do Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social

Seminário debaterá democratização da mídia

Mídia, democracia, regulação, liberdade de imprensa e de expressão: estes serão os temas centrais do seminário, promovido pela Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS), Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom) e Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, no dia 3 de novembro, em Porto Alegre. O evento reunirá nomes como Franklin Martins, Paulo Henrique Amorim, Luiza Erundina e Venício Lima.

Mídia, democracia, regulação, liberdade de imprensa e de expressão: estes serão os temas centrais do seminário promovido pela Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS), Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom) e Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, no dia 3 de novembro, em Porto Alegre. O evento será na Escola Superior da Magistratura (rua Celeste Gobbato, nº 229, bairro Praia de Belas). A programação do encontro é a seguinte:

8h30min – credenciamento

9h às 12h – Abertura e 1º Painel

Democracia e Liberdade de imprensa


Presidente de mesa: Leoberto Narciso Brancher – Conselheiro de Comunicação da AJURIS

Participantes:

Claudio Baldino Maciel – Desembargador TJRS

Paulo Henrique Amorim – Jornalista do site Conversa Afiada

Pascual Serrano – Jornalista espanhol

Breno Altmann – Jornalista e Diretor da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom)

Juremir Machado – Jornalista do Correio do Povo e Rádio Guaíba e professor da PUCRS


15h às 18h – 2º Painel e Encerramento

Regulação e Liberdade de expressão

Presidente de Mesa: Ronaldo Adi Barão Castro da Silva – Assessor da Presidência da Ajuris

Participantes:

Eugênio Facchini Neto – Desembargador do TJRS e professor da Escola Superior da Magistratura e da PUCRS

Franklin Martins – Jornalista e Ex-ministro da Comunicação Social do Governo Lula

Venício Lima – Jornalista, Sociólogo e Professor da UNB

Luiza Erundina – Deputada Federal PSB

Elton Primaz – Jornalista, chefe de Redação do jornal O Sul

Bia Barbosa – Jornalista e integrante do Conselho Diretor do Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social


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sábado, 20 de agosto de 2011

O que está por trás da crise internacional


A crise econômica internacional provocada pela desregulação enlouquecida dos mercados financeiros tem, como um de seus efeitos colaterais, a proliferação de uma gramática do terrorismo destinada a assustar as pessoas e a justificar obscuras operações de resgate e movimentos especulativos. “Medo”, “pânico”, “catástrofe”, “pavor” são algumas das palavras lançadas diariamente na e pela mídia, sem que se explique direito qual é mesmo a relação entre o caos no mercado financeiro e a economia real. A Carta Maior preparou um caderno especial (http://www.cartamaior.com.br) para este fim de semana, que pretende lançar um pouco de luz sobre essa estratégia de vender o medo à população como forma de justificar lucros milionários para alguns especuladores. Quem paga essa conta? E o que o Brasil está fazendo diante desse quadro?

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Fez-se vingança, não justiça


Leonardo Boff

Não se fez justiça com a morte de Bin Ladin. Praticou-se a vingança, sempre condenável."Minha é a vingança" diz o Deus das escrituras das três religiões abraâmicas. Agora estaremos sob o poder de um Imperador sobre quem pesa a acusação de assassinato. E a necrofilia das multidões nos diminui e nos envergonha a todos.

Alguém precisa ser inimigo de si mesmo e contrário aos valores humanitários mínimos se aprovasse o nefasto crime do terrorismo da Al Qaeda do 11 de novembro de 2001 em Nova Iorque. Mas é por todos os títulos inaceitável que um Estado, militarmente o mais poderoso do mundo, para responder ao terrorismo se tenha transformado ele mesmo num Estado terrorista. Foi o que fez Bush, limitando a democracia e suspendendo a vigência incondicional de alguns direitos, que eram apanágio do pais. Fez mais, conduziu duas guerras, contra o Afeganistão e contra o Irã, onde devastou uma das culturas mais antigas da humanidade nas qual foram mortos mais de cem mil pessoas e mais de um milhão de deslocados. Cabe renovar a pergunta que quase a ninguém interessa colocar: por que se produziram tais atos terroristas? O bispo Robert Bowman de Melbourne Beach da Flórida que fora anteriormente piloto de caças militares durante a guerra do Vietnã respondeu, claramente, no National Catholic Reporter, numa carta aberta ao Presidente:"Somos alvo de terroristas porque, em boa parte no mundo, nosso Governo defende a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos de terroristas porque nos odeiam. E nos odeiam porque nosso Governo faz coisas odiosas". Não disse outra coisa Richard Clarke, responsável contra o terrorismo da Casa Branca numa entrevista a Jorge Pontual emitida pela Globonews de 28/02/2010 e repetida no dia 03/05/2011. Havia advertido à CIA e ao Presidente Bush que um ataque da Al Qaeda era iminente em Nova York. Não lhe deram ouvidos. Logo em seguida ocorreu, o que o encheu de raiva. Essa raiva aumentou contra o Governo quando viu que com mentiras e falsidades Bush, por pura vontade imperial de manter a hegemonia mundial, decretou uma guerra contra o Iraque que não tinha conexão nenhuma com o 11 de setembro. A raiva chegou a um ponto que por saúde e decência se demitiu do cargo. Mais contundente foi Chalmers Johnson, um dos principais analistas da CIA também numa entrevista ao mesmo jornalista no dia 2 de maio do corrente ano na Globonews. Conheceu por dentro os malefícios que as mais de 800 bases militares norte-americanas produzem, espalhadas pelo mundo todo, pois evocam raiva e revolta nas populações, caldo para o terrorismo. Cita o livro de Eduardo Galeano, "As veias abertas da América Latina", para ilustrar as barbaridades que os órgãos de Inteligência norte-americanos por aqui fizeram. Denuncia o caráter imperial dos Governos, fundado no uso da inteligiência que recomenda golpes de Estado, organiza assassinato de líderes e ensina a torturar. Em protesto, se demitiu e foi ser professor de história na Universidade da Califórnia. Escreveu três tomos "Blowback" (retaliação) onde previa, por poucos meses de antecedência, as retaliações contra a prepotência norte-americana no mundo. Foi tido como o profeta de 11 de setembro. Este é o pano de fundo para entendermos a atual situação que culminou com a execução criminosa de Osama Bin Ladin. Os órgãos de inteligência norte-americanos são uns fracassados. Por dez anos vasculharam o mundo para caçar Bin Ladin. Nada conseguiram. Só usando um método imoral, a tortura de um mensageiro de Bin Laden, conseguiram chegar ao su esconderijo. Portanto, não tiveram mérito próprio nenhum. Tudo nessa caçada está sob o signo da imoralidade, da vergonha e do crime. Primeiramente, o Presidente Barak Obama, como se fosse um "deus" determinou a execução/matança de Bin Ladin. Isso vai contra o princípio ético universal de "não matar" e dos acordos internacionais que prescrevem a prisão, o julgamento e a punição do acusado. Assim se fez com Hussein do Iraque,com os criminosos nazistas em Nürenberg, com Eichmann em Israel e com outros acusados. Com Bin Ladin se preferiu a execução intencionada, crime pelo qual Barak Obama deverá um dia responder. Depois se invadiu território do Paquistão, sem qualquer aviso prévio da operação. Em seguida, se sequestrou o cadáver e o lançaram ao mar, crime contra a piedade familiar, direito que cada família tem de enterrar seus mortos, criminosos ou não, pois por piores que sejam, nunca deixam de ser humanos. Não se fez justiça. Praticou-se a vingança, sempre condenável."Minha é a vingança" diz o Deus das escrituras das três religiões abraâmicas. Agora estaremos sob o poder de um Imperador sobre quem pesa a acusação de assassinato. E a necrofilia das multidões nos diminui e nos envergonha a todos.

Filho de Bin Ladin diz que enterro no mar humilha família


Reuters

Uma declaração supostamente divulgada pelo filho de Osama bin Ladin denunciou a morte do líder da Al Qaeda como "criminosa" e afirmou que o seu sepultamento no mar havia humilhado a família, informou um serviço de monitoramento da Internet.

A declaração, atribuída a Omar bin Ladin, quarto filho mais velho de Bin Ladin, disse que os filhos do chefe da Al-Qaeda se reservam o direito de entrar com uma ação judicial nos Estados Unidos e internacionalmente, a fim de "determinar o verdadeiro destino de nosso pai desaparecido", afirmou o SITE Intelligence Group.

Não houve confirmação independente da autenticidade da carta, publicada no site do ideólogo islâmico Abu Walid al-Masri, mas vários especialistas em propaganda militante disseram que o texto parece genuíno.

Omar bin Ladin, que reside no Golfo Pérsico há alguns anos, não respondeu imediatamente aos pedidos por e-mail e telefone para comentar o assunto.

A carta dizia, em parte: "Consideramos o presidente americano (Barack) Obama como legalmente responsável por esclarecer o destino de nosso pai, Osama bin Ladin, pois é inaceitável, humana e religiosamente, dispor de uma pessoa com tamanha importância e status entre o seu povo jogando seu corpo no mar, numa ação que humilha a sua família e seus seguidores e que desafia as regras e os sentimentos religiosos de centenas de milhões de muçulmanos."

A carta afirmou que o governo dos EUA não havia oferecido nenhuma prova de sua missão. Ele alegou que o objetivo da operação era de matar e não prender, acrescentando que depois os comandos norte-americanos teriam "se livrado do corpo às pressas".

Alguns muçulmanos têm dúvidas quanto à morte de Bin Ladin por soldados dos EUA em um ataque no Paquistão em 2 de maio e subsequente eliminação de seu corpo no mar.

As perguntas têm se multiplicado desde que a Casa Branca disse que o líder da Al Qaeda estava desarmado quando soldados dos EUA invadiram por helicóptero a casa onde ele estava escondido, na cidade de Abbottabad.

O enterro imediato de Bin Ladin no mar, que muitos muçulmanos dizem que foi uma violação dos costumes islâmicos, também causou ressentimento.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Um presente de aniversário


O presente de aniversário poético e maravilhoso do Thadeu sensibilizou-me muito.

“Paz, muita saúde e um poema para reflexão nesse dia tão especial. Um grande abraço.”

Vida

um ano a mais

um ano a menos

que diferença faz

quando já somos

mais ou menos

mais suaves

mais sábios

mais fortes

mais justos

e de mais a mais

cromossomos

um ano a mais

um ano a menos

a vida é cais

e lá vão nossos sonhos:

barcos pequenos

um ano a mais

um ano a menos

lendo os sinais

nos esquecemos

e quando nos lembramos

é tarde demais

um ano amais

outro odiais

um ano demais

outro de menos

um ano tanto fez

outro tanto faz

um ano como nunca houve outro

um ano sem pagar e só levando o troco

um ano que vem

um ano que vai

e os mesmos ais

mais amenos

Antonio Thadeu Wojciechowski

17 de abril de 2011.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Reunião Zonal do PMDB de Curitiba


CONVITE

Dia 30 de março de 2011, quarta-feira, às 18h30, no Auditório do Diretório Estadual do PMDB, será realizada a Reunião das Dez Zonais do PMDB de Curitiba, que preparará as convenções zonais do partido para junho de 2011.

Venha participar deste momento importante e histórico do velho PMDB de guerra e convide os seus amigos, familiares e correligionários.

A sua presença é muito importante para todos nós.

Abraços, Di Lucca.


quinta-feira, 24 de março de 2011

Revista de americanos foi agressiva, diz Mercadante, é o título da nota.



Relata a Folha de São Paulo:

A revista consistiu em uso de bastão e portal detector de metais. Os ministros ainda teriam sido proibidos de usar os carros oficiais. Eles foram escoltados por agentes americanos em um ônibus até o local e revistados na entrada”.

Ministros reclamaram, entre eles Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), Alexandre Tombini (Banco Central) e Edison Lobão (Minas e Energia).

Prossegue a FSP:

“Acho que foi um erro transferir naquele evento da CNI a parte de segurança para a equipe americana”, disse Mercadante. “Foi uma intervenção muito agressiva, autoritária, assisti ali a episódios inaceitáveis”, declarou.

Ele disse ter presenciado um segurança americano destruir com um soco uma maçã que estava na bolsa de uma mulher.

Um dos ministros contou que o esquema fez com que se sentissem como “colegiais” ou suspeitos tentando entrar nos EUA. Após a revista, eles resolveram ir embora.

O Ministério da Fazenda afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que Mantega se sentiu incomodado não apenas pela revista em si, mas porque ele e os colegas já haviam passado por segurança antes, no almoço com Obama no Itamaraty.

Bem, então foram duas revistas: no Itamaraty e no evento da CNI. Segundo a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, o procedimento foi padrão, comum “em todas as visitas em evento organizado pela Casa Branca”.

Certo. Então quando a Presidente Dilma visitar os Estados Unidos e a Embaixada brasileira organizar um evento, a segurança (inclusive sobre autoridades norte-americanas) será feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e pela Polícia Federal. Vamos ver.

A verdade, a meu ver, é que essas revistas violaram a soberania brasileira. Agentes estrangeiros revistando ministros brasileiros é algo inconcebível em qualquer lugar do mundo, muito mais em território nacional.

No ano passado, o então Presidente Lula lembrou o episódio ocorrido nos Estados Unidos, em janeiro de 2002, quando o então chanceler Celso Lafer foi obrigado a tirar o sapato três vezes por seguranças de aeroportos ao longo da viagem que fez ao país. Lula garantiu: “Ministro meu que tirar o sapato deixará de ser ministro. Se tiver que tirar o sapato, volte para o Brasil, porque não exigimos que ninguém tire o sapato aqui”, disse.

Deixar-se revistar por seguranças norte-americanos, apesar de, em seguida terem se retirado, foi da parte dos ministros quase como tirar os sapatos nos aeroportos, como se Celso Lafer reclamasse e voltasse pra o Brasil, mas depois de tirar os sapatos. Um gesto, digamos, de meia dignidade. Deviam, os nossos ministros de hoje, protestar à altura e não permitir a revista. Nenhum brasileiro decente os condenaria por isso.

* Luiz Manfredini é jornalista e escritor em Curitiba.

quarta-feira, 23 de março de 2011

PMDB Estadual determina a realização de Convenções Zonais em Curitiba



Em reunião da Executiva do Diretório Estadual do Paraná realizada no dia 21 de março de 2011, foi aprovada a determinação para que a Comissão Executiva Municipal do PMDB nomeie no prazo improrrogável de 30 (trinta) dias, as Comissões Provisórias Zonais para cada zona eleitoral existente na capital.

O pedido de providências foi formulado por Luiz Pedro Di Lucca, militante e membro da Executiva do PMDB de Curitiba e por Milton Buabssi, militante e ex-presidente do PMDB Estadual. A defesa do pleito ao Diretório Estadual esteve a cargo de Di Lucca.

Em 2001, os Diretórios Zonais foram dissolvidos pela Executiva Municipal de Curitiba, sem o referendo do respectivo Diretório composto por 45 membros titulares. Neste ínterim dez anos se passaram sem que os dez diretórios zonais fossem reativados.

O PMDB de Curitiba teve uma grande representatividade perante a sociedade, mas a partir de 2001, quando foram dissolvidos os diretórios zonais da Capital, o partido começou a perder a sua capilaridade. Como conseqüência de tal decisão, o resultado pífio nas urnas nas últimas eleições municipais, ou seja, a extinção dos diretórios zonais demonstrou-se desastrosa.

O que se percebe é que com a abolição dos diretórios zonais, buscou-se centralizar as decisões num único diretório municipal, buscando com isso evitar a participação de seus líderes zonais, numa manobra contra a democracia.

Destaca-se que essa manobra de acabar com os diretórios zonais configura total afronta ao Estatuto do partido. Os mencionados diretórios zonais são parte integrante da estrutura partidária, como forma de democracia interna, de modo a garantir a livre escolha de seus dirigentes em eleições periódicas nos diversos níveis de sua estrutura e a participação de seus filiados na orientação política do Partido, na vida partidária, garantindo o direito de correntes de opinião (Art. 4º - I).

No capítulo I dos (DOS ÓRGÃOS DO PARTIDO), a organização do Partido compreende os níveis:

Art. 14. A organização do Partido compreende os níveis:

I - Nacional;

II - Estadual;

III - Municipal;

IV - Zonal.

§ 1º. Nas Capitais e Municípios com mais de 1 (um) milhão de habitantes haverá tantos órgãos Zonais quantas forem as Zonas ou Distritos Eleitorais existentes, sem prejuízo da existência necessária de órgãos Municipais com jurisdição sobre todo o Município.

§ 2º. Nos Municípios com menos de 1 (um) milhão de habitantes que possuírem mais de 1 (uma) Zona, o Diretório Municipal poderá, devidamente autorizado pelo Diretório Estadual respectivo, criar tantos órgãos Zonais, quantas forem as Zonas.

Ainda destacamos o artigo 87 e 88 do Estatuto do PMDB que trata das convenções municipais e zonais:

Art. 87. Constituem as Convenções Municipais e Zonais os eleitores inscritos no Município e na Zona eleitoral, filiados ao Partido.

§ 1° - Nos Municípios onde existam órgãos zonais constituídos, a Convenção Municipal será integrada pelos:

I - membros do Diretório Estadual com domicílio no Município;

II - membros do Diretório Municipal;

III - Parlamentares do Partido com domicílio eleitoral no Município;

IV - delegados eleitos pelas Convenções Zonais.

§ 2° - Constituem as Convenções Municipais destinadas à escolha de candidatos a Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores:

I - membros do Diretório Municipal;

II- Parlamentares do Partido com domicílio eleitoral no Município;

III - Delegados eleitos pelas Convenções Municipais ou Zonais.

IV - membros do Diretório Estadual com domicílio no Município;

Art. 88. Compete às Convenções Municipais e Zonais:

I - eleger os membros dos Diretórios respectivos, e os membros dos Conselhos de Ética e Disciplina correspondentes e, ainda, os Delegados e suplentes às Convenções Estaduais;

II - escolher ou proclamar, quando houver eleições prévias, candidatos aos postos eletivos municipais;

III - decidir sobre coligação com outros partidos;

IV - analisar e aprovar as plataformas dos candidatos à Prefeitura Municipal;

V - decidir sobre as questões político-partidárias, no âmbito Municipal.

Parágrafo único - Nos Municípios onde existirem órgãos Zonais constituídos, a Convenção Municipal não elegerá Delegados à Convenção Estadual, estes serão eleitos pelas Convenções Zonais existentes, e as competências previstas nos incisos II, III, IV e V deste artigo serão restritas à Convenção Municipal respectiva.

Dessa forma, é inequívoco que uma estrutura partidária não estará completa se em municípios com mais de 1 (um) milhão de habitantes não houver diretórios zonais organizados e em funcionamento.

Verifica-se no diretório da capital, que até mesmo os delegados à Convenção Estadual são nomeados, quando na realidade, o Estatuto prevê que eles devem ser eleitos juntamente com os diretórios zonais.

Conforme acima relatado o partido perdeu sua força, suas lideranças e a capacidade de diálogo com a população dos bairros, com a sociedade civil organizada, com os sindicatos, com os órgãos de classe, ou seja, praticamente deixou de existir na cidade de Curitiba.

Essa situação é confirmada de acordo com os números da última eleição para prefeito e vereadores, quando o PMDB conseguiu eleger apenas 2 vereadores e o candidato a prefeito não conseguiu fazer votos suficientes (19 mil votos) para eleger um vereador que necessita de 22 mil votos de legenda.

No passado numa Câmara de 32 cadeiras, foram eleitos 22 vereadores do PMDB. Essa situação não é exclusiva de Curitiba, todas as grandes cidades do Paraná, os Diretórios do PMDB estão passando pelos mesmos problemas da Capital.


segunda-feira, 21 de março de 2011

O antes, o durante e e o depois: Barack Obama e o Brasil


Cristina Soreanu Pecequilo *

A breve passagem do Presidente Barack Obama no Brasil nos dias 19 e 20 de março de 2011, em Brasília e Rio de Janeiro, foi antecedida por imensa expectativa em alguns círculos, que avaliaram a viagem como um exemplo prático da mudança significativa que a política externa estaria sofrendo no início da administração de Dilma Rousseff em comparação a de seu antecessor Lula (2003/2010). Com base nesta avaliação equivocada, inúmeras imagens foram construídas a respeito do que Obama faria ou diria em solo nacional.

Iniciando com a abolição dos vistos, passando pela conclusão de um acordo comercial bilateral ao estabelecimento de uma ampla parceria energética no campo do petróleo e biocombustíveis até a declaração formal de apoio ao pleito brasileiro de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSONU), a agenda destes grupos era extremamente abrangente. Tendenciosas, estas avaliações revelavam uma preocupação extensiva em desqualificar os esforços diplomáticos anteriores. A utilização repetida do termo “normalização”, associado na década de 1990 a uma perspectiva periférica e acrítica, passava a idéia de uma relação sustentada somente em conflitos e que estaria sendo substituída pela reintegração ao núcleo de poder norte-americano. Mais ainda, revelava o permanente desconhecimento sobre as motivações estratégicas dos EUA.

Se em 2011 o Brasil recebeu Barack Obama como uma potência global, isto se deve aos esforços internos e externos do país que o qualificaram a este status de forma autônoma. Esta situação não emerge de um relacionamento de mão única com aquele que tradicionalmente foi o maior parceiro político-econômico brasileiro no século passado, mas da busca de alternativas que permitiram solidificar uma ação internacional consistente e coerente com as necessidades do país. Com isso, as motivações estratégicas norte-americanas não derivam destes cálculos simplistas que permearam o debate sobre a política externa brasileira, mas da percepção de que o Brasil e a América do Sul são mais dois espaços nos quais os EUA perderam posições.

Assim, era preciso para os norte-americanos sinalizar que desejam preservar o Brasil em sua esfera de influência diante deste vácuo, como já o haviam feito diante da China, da Índia e da Rússia em ofensivas diplomáticas similares em contatos bilaterais prévios. E, no caso, no Brasil e na região, os EUA não perderam somente posições para a China, hoje o maior parceiro comercial brasileiro e aliado no grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), ou para a Índia, também no BRIC e no IBAS (Fórum de Diálogo Índia, Brasil, África do Sul), ou para a África do Sul, ou para a Rússia, ou para a cooperação Sul-Sul em geral, mas para o próprio Brasil nas Américas e no mundo.

Positivamente, em meio a estes ruídos prévios e construções ideológicas de determinados grupos que ignoravam estas questões, os sinais de Brasília mantiveram a percepção de que a visita de Barack Obama representava o reconhecimento deste processo de consolidação político-econômica-estratégica. Tais sinais já se encontravam presentes nos encontros preparatórios entre os dois países antes da chegada de Obama, e demonstravam clareza quanto o que significava esta viagem: uma oportunidade de aprofundar e promover maior adensamento estratégico das relações bilaterais, a partir do reconhecimento norte-americano do status global de poder do Brasil.

Tendo esta realidade como ponto de partida, de que se tratava de uma viagem de reconhecimento e não de concessões norte-americanas ou subserviência brasileira, deixou-se claro que esta dinâmica bilateral não afeta as prioridades externas do Estado brasileiro em termos de agenda Sul-Sul ou Norte-Sul, demandas e projeção. Parte da iniciativa de ser lider é criar fatos novos, dimensões positivas de interdependência, ação que os emergentes e o Brasil tem feito cada vez de forma mais constante. Neste campo, assumem responsabilidades por seus próprios destinos, e de nações similares ou de menor poder relativo, em suas escalas regionais e em nível global estatal e multilateral.

À medida que na última década o Brasil não manteve sua política ou agenda econômica, atrelada aos EUA, sua importância diante deste país aumentou, da mesma forma que sua vulnerabilidade diminuiu diante das constantes oscilações da política da potência hegemônica. Em seu discurso no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 19 de Março, Barack Obama mencionou iniciativas brasileiras como a UNASUL (União Sul-Americana de Nações) e projetos sociais direcionados às nações do sul no combate à fome e programas de saúde. Ou seja, o Brasil não era mais só o país do futuro, mas que o futuro teria chegado ao Brasil, como afirmou o Presidente dos EUA.

Fortemente, o país demonstrou não ter ilusões de que este reconhecimento traduzir-se-ia, de imediato, em uma mudança concreta da posição norte-americana em determinados temas. Nestes temas, principalmente no comércio bilateral, arena na qual o Brasil demanda maior igualdade e reciprocidade, e na reforma das organizações internacionais governamentais, principalmente no caso das Nações Unidas e seu CS, a posição brasileira foi de sustentar suas reivindicações. Por sua vez, pode-se até considerar que os EUA responderam positivamente em sua retórica, em suas demonstrações de “apreço” pelo pleito brasileiro, pela fala de Obama a empresários que igualou o país à China e Índia. A retórica, porém, não foi acompanhada pela substância da mudança ou pela sinalização de que os norte-americanos estariam dispostos a fazer concessões para engajar de forma diferente o Brasil nestas dimensões.

Acenar com parcerias para o pré-sal, ações conjuntas no campo energético é sinal do novo papel do Brasil, mas também da natureza pragmática do interesse norte-americano em petróleo, mercados em novos espaços que não surjam como tão conturbados como o Oriente Médio, apostando nas nações “amigas”. E, igualmente sendo pragmáticos, são parcerias que trazem inúmeros riscos ao Brasil, caso o país não busque preservar sua soberania nestas negociações, independente do campo. Neste sentido, o papel, por exemplo, da Comissão Brasil-Estados Unidos para Relações Econômicas Comerciais é o de encontrar pontos de consenso possível e equilibrio no setor, preservando a capacidade negociadora brasileira e sua autonomia. O mesmo raciocínio se estende às arenas da biodiversidade, dos diálogos estratégicos, da cooperação técnica e para a organização e segurança da Copa-2014 e das Olimpíadas-2016. O Brasil não pode se furtar a negociar com os EUA, mas precisa atrelar estas conversações a lograr objetivos que permitam a continuidade de seu crescimento e resolução de assimetrias internas via programas sociais.

Chegando ao mundo “real” não deixa de ser simbólico que enquanto Barack Obama acenava às “nações amigas” da América Latina, como o fez no Brasil, e o fará no Chile, com declarações “históricas” sobre as relações entre “iguais” e a consolidação da democracia, os bombardeios aéreos à Líbia atingissem elevada intensidade, depois da autorização do CSONU à operação na sexta-feira 18/03/2011. Em solo brasileiro, a intervenção foi abordada sob o signo da defesa da democracia e motivos humanitários, enquanto prolongam-se protestos e repressões similares em países aliados norte-americanos na região.

Também não deixa de ser simbólico, que nesta votação do CS, os países que se abstiveram e demonstraram preocupação com a ação, fossem os emergentes membros permanentes deste Conselho e nações pleiteantes, membros temporários eleitos: China e Rússia, somados à Brasil, Índia e Alemanha. São nestas manifestações que se desenha o novo mapa geoestratégico global e as complexas dinâmicas de poder do século XXI que motivam as viagens de Obama e suas declarações de igualdade com seus parceiros.

Porém, como se diz no Brasil, os EUA são um “pouco mais iguais” do que os outros: seu poder militar de superpotência e comando residual das organizações internacionais contrasta com uma economia estruturalmente deficiente e uma sociedade doméstica polarizada. Durante e depois de Obama, o Brasil continua sendo o mesmo de antes, consolidando sua ascensão do nível regional ao global, que busca a continuidade de seu projeto político-social-econômico e estratégico. Com os EUA, e com o mundo, dialogar não é sinônimo de concordar, mas de saber ouvir, negociar e falar em nome do interesse nacional.

(*) Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)