O Paraná é o estado que teve melhor desempenho industrial das regiões Sul e Sudeste e o segundo melhor do país, durante os primeiros seis meses de 2009. Segundo dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os impactos da crise sobre a indústria paranaense foram menores que nos demais estados. Quando comparado ao mesmo período de 2008, a Produção Industrial no Paraná acumulou uma variação negativa de 5,9%. No Brasil, essa variação foi de -13,4%, e no estado de São Paulo a produção industrial acumulou uma variação de -14,4%.
Em comparação com os demais estados do Sul, o Paraná também se encontra numa condição mais favorável, uma vez que Santa Catarina acumulou uma variação de -12,9% na sua produção industrial, e no Rio Grande do Sul a queda foi de -13,5%.
O Ipea fez ainda um estudo para estimar os impactos interregionais da crise. Observou-se que, pelas características do comércio interregional, a região Sul seria a segunda mais afetada pela crise. Fato que se confirma ao se observar o comportamento da produção industrial em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Neste sentido, o Paraná, mais uma vez, apareceu como uma exceção à regra, apresentando um desempenho melhor que o observado nos estados da região.
Segundo as previsões do Ipea, o tempo de recuperação das regiões também deve acontecer de forma diferenciada. Enquanto se espera que no Nordeste a recuperação leve em torno de 16 meses, no Sudeste ela deve acontecer após 11 meses, ao passo que no Sul a recuperação se dará apenas oito meses após o início da crise.
Na avaliação do secretário do Planejamento, Enio Verri, esta é uma janela de oportunidades que está se abrindo diante da economia paranaense,uma vez que aqui os investimentos também poderão retornar a níveis satisfatórios antes dos demais estados do Sul, já que a menor queda implica também numa menor capacidade ociosa.
“Se os prognósticos do Instituto se confirmarem, a evolução do emprego no Estado assumirá uma dinâmica ainda mais intensa. Vale ressaltar que o emprego no Paraná já vem mantendo um desempenho superior ao observado nos demais estados da federação”, ressaltou Verri.
Medidas - O secretário Enio Verri destaca que os resultados obtidos pela indústria e também pelo comércio varejista que, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cresceu 6,3% em junho, são frutos das políticas de enfrentamento adotadas pelo governador Roberto Requião, muitas colocadas em prática antes mesmo da eclosão da turbulência econômica mundial.
“Antes mesmo da crise, o governo reduziu o ICMS das pequenas e microempresas. Também aumentou o poder de compra da classe trabalhadora, aumentando o salário mínimo regional acima do piso praticado pelo governo federal. Outra ação importante foi a minirreforma fiscal, que baixou de 25% e 18% para 12% o ICMS de 95 mil itens de consumo popular”, lembra o secretário.
“O Governo do Paraná não está inventando dados estatísticos, eles estão sendo divulgados pelo Ipea, uma instituição respeitada. Os números demonstram, mais uma vez, que o governador Roberto Requião está no caminho certo”, disse Verri.
Comércio - Sobre a pesquisa divulgada pelo IBGE, que indicou um crescimento de 6,3% das vendas do comércio varejista paranaense em junho, o secretário do Planejamento avaliou que o aumento aconteceu, principalmente, em função da redução de imposto sobre os 95 mil itens de consumo. Segundo a pesquisa do IBGE, o resultado do Paraná é superior ao registrado pelo comércio varejista brasileiro, cujo crescimento do volume de vendas atingiu 5,6%.
No acumulado de janeiro a junho de 2009, as vendas do setor no Paraná aumentaram 4,5%, também acima do resultado nacional. Entre os segmentos que contribuíram para o bom desempenho estadual, merece destaque o ramo de equipamentos de escritório, informática e comunicação, com alta de 140,7% nas vendas no primeiro semestre. Nesse mesmo período, o segmento de artigos farmacêuticos e médicos registrou crescimento de 22,6%, enquanto o ramo de hipermercado e supermercados contabilizou acréscimo de 2,3% nas vendas.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Paraná tem o melhor desempenho industrial da região Sul e o segundo melhor do Brasil
Cotas, a intolerância relativizada?

DEBATE ABERTO
Ao entrar com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão da matrícula dos alunos negros aprovados pelo sistema de cotas da Universidade de Brasília, o DEM (ex-PFL) protagonizou um momento emblemático da nossa propalada “democracia racial”.
Gilson Caroni Filho
Há algo mais profundo, fortemente recalcado, em todas as discussões envolvendo políticas afirmativas em universidades públicas. Tanto o projeto de Lei Complementar, em tramitação no Senado, estabelecendo que as instituições de educação superior reservem 50% das vagas para autodeclarados negros, pardos e índios que cursaram o ensino médio em escolas públicas e venham de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita, quanto a lei estadual que instituiu o sistema no Rio de Janeiro sofrem forte resistência de atores políticos e de personalidades do mundo acadêmico. Afinal, a quem ameaça a implantação de tais medidas?
Conhecida por seu ativismo contra as cotas, a antropóloga Yvonne Maggie declarou recentemente que “uma coisa é dizer que o Brasil é um país desigual, com uma distância muito grande entre ricos e pobres. Outra coisa é atribuir isso à raça”. Para ela, “a lógica étnica ou racial não tem fim e só persiste porque a Fundação Ford investiu milhões de dólares no Brasil”.
Como explicar o posicionamento da autora do livro Guerra de orixá? Adesão a um padrão de análise que, baseada nas formulações teóricas de Gilberto Freyre, vê a história brasileira como um suceder de arranjos e combinações calcadas na “cordialidade” de uma elite flexível? Reverência a uma arquitetura tão perfeita que o conflito só aparece como “algo externo á nossa gente”?
Esse tipo de discurso está tão cristalizado no pensamento social brasileiro que mesmo setores mais progressistas fazem coro a ele. Quantas vezes não ouvimos que as injustiças sociais em relação aos negros não seriam particularidades destes, mas do conjunto das classes trabalhadoras? Uma visão reducionista que ignora evidências estatísticas. Pelos números do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (Pnud), em 2002, enquanto os brancos no Brasil tinham um padrão de vida – considerando-se o nível de educação, expectativa de vida e renda – comparável aos habitantes dos Emirados Árabes (46º lugar entre os 173 países pesquisados), os negros viviam como habitantes da República da Moldávia (105º posição). Esses números não mostram uma correlação cristalina entre etnia e inserção social?
Não lembrar, ou fingir que não lembra, que em determinada fase de nossa história houve uma coincidência entre a divisão racial e social do trabalho é legitimar uma estrutura societária rigidamente estratificada que, apesar dos avanços nos últimos anos, ainda persiste em atribuir aos brancos as atividades consideradas mais qualificadas, as que gozam de maior prestígio.
De acordo com o relatório anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2007-2008, da UFRJ, entre 1995 e 2006, o peso relativo da população autodeclarada parda ou preta subiu de 45 para 49,5%. Isso significa, segundo a pesquisa, que os negros podem vir a ser maioria da população do povo brasileiro nos próximos anos. Se por um lado os dados sinalizam para a derrocada crescente da ideologia do branqueamento, por outro o aumento da auto-estima entre a população não-branca se dá por uma série de fatores. E o principal, na opinião do antropólogo e professor da UnB, José Jorge de Carvalho, é “o aumento do debate sobre a questão racial no Brasil”.
Se Yvonne Maggie está correta quando diz que “raça é uma invenção dos racistas para dominar mais e melhor”, talvez, se debruçando sobre as particularidades do fenômeno racista, entenda a competência dos que manejam o discurso excludente. Aqueles que, sabendo que os negros são a maioria dos analfabetos, dos que recebem menores salários, dos encarcerados, dos subempregados e se constituem minorias nas faculdades, em grandes empresas e no Congresso Nacional, entre outros lugares de projeção, rejeitam o sistema de cotas alegando que “raça não pode ser critério de distribuição de justiça”.
Um olhar atento mostraria que “raça” sempre foi critério classificatório de quem pôde ter identidade e consciência histórica: uma elite branca que idealizou a tolerância que jamais teve. Qualquer estudante universitário sabe disso. Se for negro e cotista, então, conhece bem os limites das “relativizações possíveis”. Aquele pequeno espaço de dramatizações sociais para onde convergem os “orixás” da UFRJ e os senhores da direita escravocrata. Ali são forjados os estatutos “progressistas” da Casa-Grande.
(*) Artigo publicado originalmente no Jornal do Brasil