quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O papelão de Waldvogel e a desmontagem do factóide Lina


A jornalista Monica Waldvogel reuniu no programa "Entre Aspas", da Globonews, o ex-secretário da Receita Federal (no governo FHC), Everardo Maciel, o presidente do SindiReceita, Paulo Antenor, e um advogado tributarista para discutir a "crise da Receita". Após uma introdução onde denunciou o "aparelhamento" da Receita e apresentou Lina Vieira como "vítima" deste processo, ouviu dos convidados que o aparelhamento foi feito, na verdade, por Lina Vieira. Para jornalista Luis Nassif, comentário inicial de Waldvogel foi "vergonhoso, antijornalístico e desonesto".

O programa foi ao ar nesta terça-feira (25). A apresentadora Monica Waldvogel iniciou o "Entre Aspas" com uma leitura apocalíptica sobre o "aparelhamento da Receita" pelo governo Lula, mostrando Lina Vieira como uma "vítima" de interesses poderosos (Sarney, Petrobras, etc.). Todas as teses da introdução de Waldvogel foram rejeitadas e rebatidas pelos participantes do programa. Ao final do mesmo, constrangida, a jornalista pergunta:

- Mas então houve uma manipulação da opinião pública?

O jornalista Luis Nassif resumiu assim, em seu blog, o papel constrangedor de Waldvogel e a desmontagem do factóide Lina Vieira:

"O comentário inicial lido por Mônica Waldvogel é vergonhoso, antijornalístico, desonesto, porque desmentido ao longo de todo o programa pelos três entrevistados convidados. A Globonews perdeu o rumo."

Os três convidados são unânimes em afirmar que politização ocorreu na fase de Lina Vieira, não agora. Mônica atropela as conclusões da mesa redonda, desrespeita os telespectadores ao antecipar conclusões falsas. Principalmente sabendo-se que a abertura sempre é feita após o programa, com base nas conclusões levantadas.

Paulo Antenor, presidente do SindiReceita, sindicato dos Analistas-Tributários da Receita Federal, denuncia o aparelhamento da Receita… por Lina. Mostra que o pedido de demissão coletiva dos antigos superintendentes foi apenas uma antecipação para demissões que ocorreriam. O advogado tributarista nega crise na Receita. Disse que está mais preocupado com as taxas de juros dos bancos e temas mais relevantes.

Mônica tenta se socorrer do ex-Secretário da Receita Everardo Maciel, da gestão FHC, pedindo que confirme a politização. Everardo diz que a politização ocorreu com Lina e que agora não há ingerência política, porque é atribuição do Ministro definir o Secretário.

Depois disso tudo, Mônica volta ao papo de que Mantega estaria pressionando para não apertar os grandes contribuintes. Os entrevistados negam. Everardo mostra que esse foco nos grandes contribuintes começou em sua gestão. Mônica diz que houve aumento na arrecadação dos grandes contribuintes na gestão Lina. Everardo desmonta com números.

Mônica vem com a história da opção do regime de caixa pela Petrobras foi manipulação. Everardo é incisivo: a Petrobras está certa. O factóide criado foi para justificar a queda da arrecadação na gestão Lina - embora admita que a queda tem muitos outros fatores deflagradores, entre os quais a crise.

Mônica: se fosse tão clara a possibilidade de mudar o regime no meio do ano, não haveria essa controvérsia.

Everardo: a regra é clara e foi feita em 1999 justamente para enfrentar o problema da desvalorização cambial.

Mônica: mas até agora a Receita está para soltar um parecer.

Everardo e os demais: já foi feito, concordando com a Petrobras. Essa prática existe há muito tempo, não existe qualquer ilegalidade ou manobra contábil.

Mônica, balbuciando: a lei foi feita. Houve então uma manipulação da opinião pública?

Todos concordam com a cabeça.

Aí ela deriva a entrevista para o caso Sarney, perguntando se é legítimo pressionar a Receita para abrandar a fiscalização.

O presidente do Sindicato disse que é impossível essa pressão, que nunca essa informação correu na Receita. Disse que sempre trabalhou próximo à chefia da Receita, tanto no governo FHC e Lula, e nunca viu esse procedimento. O chefe da Receita conversa com políticos todos os dias. Mas esse tipo de ingerência é novidade para a gente.

Everardo disse que se ocorreu, o momento certo seria na época em que foi feita. Se não fez, cometeu prevaricação.

Conclusão final dos três entrevistados: Lina foi um desastre para a imagem da Receita e caberá a todos os funcionários trabalharem para o resgate de sua imagem.

O governo dos Estados Unidos começa a semear incertezas na economia sulamericana como forma de intimidar o nosso crescimento


O presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, afirmou que as perspectivas de crescimento da economia dos Estados Unidos e do resto do mundo são boas, mas que “desafios importantes ainda persistem”.

Enquanto isso, o governo Norte-americano começa a semear incertezas na economia sulamericana como forma de intimidar o nosso crescimento. Vejam a matéria a seguir:

Os países da América Latina e do Caribe vão experimentar, em 2009, uma queda “sem precedentes” de 13% no volume de exportações e importações, de acordo com o relatório Panorama da Inserção Internacional 2008-2009, da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), divulgado nesta terça-feira.

O volume, segundo o documento, é superior aos 10% de queda projetados para o comércio mundial.

“O dado confirma que o comércio foi o setor mais afetado pela crise econômica global na região. O comércio sofre uma contração sem precedentes”, afirmou a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, em uma coletiva em Santiago, no Chile, sede do organismo internacional.

Segundo o documento, o volume das exportações da região cairá 11%, seu pior resultado em 72 anos (desde 1937), enquanto as importações deverão retroceder 14% - o nível mais baixo em 27 anos (desde 1982).

O relatório afirma que a queda no comércio é resultado do “forte declínio da demanda internacional, da queda dos preços de algumas matérias-primas básicas, das dificuldades para o financiamento do comércio e o comportamento pró-cíclico dos fluxos de comércio intrarregional, especialmente na América do Sul”.

"Como consequência da crise, o comércio mundial despencou a uma taxa, inclusive, maior do que a registrada durante a Grande Depressão. De julho de 2008 a maio de 2009, a contração no valor do comércio mundial foi de 37%. Para 2009, em seu conjunto, a previsão é de uma queda no volume do comércio mundial próxima a 10%."

A secretária-executiva da Cepal afirmou em um comunicado, no entanto, que a expectativa é de que o comércio internacional “volte a ser fonte de oportunidades” e que a “região deve se preparar” para isso.

Economia real

No texto, o organismo afirma que a crise mundial foi transmitida para a economia real da região por meio das quedas no investimento estrangeiro direto (IED), nas remessas dos migrantes, nos preços dos produtos básicos e no comércio.

"O choque externo que a região sofreu é de proporções superiores ao provocado pela crise asiática e pela crise da dívida externa. As cifras projetadas para 2009, em comparação com 2008, mostram uma queda entre 35% e 45% nos fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED), entre 5% e 10% nas remessas, de 29% nos preços internacionais dos produtos básicos exportados pela região e de 25% no valor de suas exportações", diz o relatório.

Serviços e turismo também foram afetados, segundo o organismo. Pelo balanço da Cepal, quase todos os países da região sofreram quedas nos fluxos de comércio com seus principais sócios (Estados Unidos, União Europeia, Ásia e a própria região).

Somente a China, diz o documento, apresentou “demanda sustentada de produtos básicos”, o que serviu para contrabalançar parte desta retração do comércio exterior regional.

Entre as mercadorias mais afetadas pela queda nas vendas externas no primeiro semestre de 2009 estão produtos de mineração e petróleo de toda a região (50,7%). Já os produtos manufaturados e agrícolas caíram 23,9% e 17% respectivamente.

Apesar dos resultados ruins no comércio, a Cepal afirma que a região está conseguindo enfrentar melhor esta crise do que as anteriores.

“A região está enfrentando este choque sem repercussões drásticas na evolução do PIB e do emprego, o que mostra que está melhor preparada como resultado da confluência de um bom ciclo internacional (2003-2007), com as melhorias na gestão da política econômica.”

Recuperação brasileira

Em entrevista à BBC Brasil, a secretária-executiva da Cepal Alicia Bárcena, afirmou que, em sua avaliação, o Brasil pode registrar um desempenho econômico positivo este ano, ao contrário da última previsão da Cepal de que a economia brasileira teria uma retração de 0,8% em 2009.

“A verdade é que o Brasil teve importante recuperação. Produtos importantes para o país tiveram alta nos preços (no mercado internacional), como soja e aço. Além disso, ajudou muito a demanda interna e medidas do governo na área fiscal, como a redução de impostos para aumentar o consumo de automóveis, por exemplo, e por meio do BNDES, com investimentos”, afirmou.

A representante do organismo internacional controlado pelo Departamento de Estado dos EUA) acrescentou ainda: “O Brasil atuou com muita rapidez e (...) gerou empregos neste período de crise”.

Segundo Bárcena, as previsões da Cepal para as economias do Chile e da Argentina também podem ser revistas, já que o preço da soja voltou a subir - o que é “fundamental” para a Argentina - e a China voltou a comprar cobre, o que é “decisivo” para a economia chilena.