sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Canadá o tirano da vez


O Canadá foi a nação escalada pela Commonwealth para atacar o presidente Zelaya de Honduras e procurar consolidar o governo golpista do “sargentão” Micheletti poupando os EUA de mais um desgaste frente aos seus interesses na América Latina.

Commonwealth of Nations (Comunidade das Nações), que é o nome em inglês de uma associação de territórios autônomos, mas dependentes do Reino Unido, criada em 1931 e formada atualmente por 53 nações, a maioria das quais independentes, mas incluindo algumas que ainda mantêm laços políticos com a antiga potência colonial britânica.

O Canadá pediu que Zelaya abandonasse a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, enquanto uma comissão da OEA (ainda um organismo controlado pelos EUA) que desembarcou em Honduras nada decide. Vejam a matéria da ultra-direita BBC de Londres.

Representante canadense propõe que Zelaya deixe embaixada
Bruno Garcez
Enviado especial da BBC Brasil a Tegucigalpa
Cerca de 60 pessoas estão na embaixada brasileira com Zelaya
O representante canadense nas negociações para romper o impasse político em Honduras, Peter Kent, sugeriu que o presidente deposto do país, Manuel Zelaya, receba um salvo-conduto para que possa deixar a embaixada brasileira na capital hondurenha, onde está refugiado desde o dia 21 de setembro.
Desta forma, Zelaya poderia se hospedar em sua própria casa ou em algum lugar que julgasse cômodo, sob a fiscalização do Exército e da polícia de Honduras.
Isto só poderia ocorrer, no entanto, com a garantia por parte do regime interino de Honduras de que Zelaya não seria detido, já que ele é acusado de ter cometido 18 delitos pelo governo de Roberto Micheletti.
A OEA também afirmou que não consentiria que o presidente deposto fosse submetido à prisão domiciliar.
Embaixada
A saída de Zelaya da embaixada do Brasil em Tegucigalpa foi um dos temas discutidos na reunião de quarta-feira entre representantes do governo interino, correligionários do presidente deposto e integrantes da OEA na capital hondurenha.
Atualmente, mais de 60 pessoas, incluindo Zelaya, estão abrigadas na representação brasileira em Tegucigalpa.
Por temores de segurança, Zelaya tem procurado alternar o quarto em que dorme.
A questão da embaixada foi levantada durante o encontro entre o presidente interino, Roberto Micheletti, e representantes da OEA no Palácio Presidencial hondurenho.
O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, afirmou que a embaixada do Brasil não foi concebida como um lugar de residência e que uma alternativa seria Zelaya ser “transferido para um lugar mais confortável e com mais espaço”.
O ministro das Relações Exteriores do governo interino, Carlos López Contreras, afirmou na quarta-feira, durante o seu pronunciamento na reunião, que o Brasil precisaria definir o status legal de Zelaya, se ele está ou não sob asilo político.
Mas o Brasil afirma que reconhecer Zelaya como um exilado seria uma aberração, uma vez que ele não é alguém que se refugiou na embaixada brasileira com o propósito de deixar Honduras, mas sim o contrário, ele regressou a seu país com o intuito de nele permanecer e de ser reconduzido à Presidência.
Reunião
Segundo um alto representante que participou da negociação, o resultado do encontro foi decepcionante.
Um outro diplomata comentou que há entre os representantes hondurenhos muitos que acreditam que o atual impasse político não pode perdurar, uma vez que o país já sofreu prejuízos milionários por conta das sanções estrangeiras e corre o risco de ter um presidente que não será reconhecido pela comunidade internacional.
Apesar de Micheletti haver dito que pretende seguir à frente de seu país após a realização do pleito presidencial, marcado para o dia 29 de novembro, a OEA e outros órgãos internacionais já disseram que não reconhecerão a eleição se Manuel Zelaya não for reconduzido à Presidência.
Mas o mesmo diplomata afirmou que, no campo de Micheletti, há também muitos que têm uma aversão tão forte por Zelaya que preferem ignorar as sanções internacionais a permitir que o presidente deposto volte ao poder.
Os representantes da OEA realizam nesta quinta-feira uma reunião na qual farão um saldo das negociações.
Talvez já antecipando as dificuldades que estavam por vir, o secretário-geral José Miguel Insulza havia dito que um acordo entre as partes seria algo que levaria semanas, não dias.

OEA deixa Honduras sem avanços em negociações
Bruno Garcez
Enviado especial da BBC Brasil a Tegucigalpa
Ocorreram protestos em frente ao hotel onde acontecia a reunião
A missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) partiu de Honduras nesta quinta-feira sem que o diálogo entre os partidários do presidente Manuel Zelaya e do líder interino Roberto Micheletti tenha avançado.
Nenhuma das reivindicações da entidade para destravar o impasse político no país foi atendida, mas a organização louvou o fato de que um diálogo entre os dois campos foi firmado pela primeira vez.
Micheletti se mostrou irredutível em sua decisão de impedir que Zelaya regresse ao poder. As pressões pelo retorno do líder deposto levaram Micheletti a ainda por cima repreender os representantes da OEA em uma reunião no Palácio Presidencial transmitida em cadeia televisiva.
Não foi feita qualquer garantia de que o presidente deposto poderá deixar a Embaixada do Brasil, onde ele está refugiado há 17 dias.
Comissões
O Estado de Sítio decretado pelo governo interino segue em vigor na prática, uma que vez que o decreto oficial colocando fim ao regime de exceção nunca foi publicado, apesar de Micheletti ter garantido que o dispositivo que teve início cinco dias após o regresso de Zelaya cessou de ter validade nesta terça-feira.
A OEA divulgou um comunicado nesta quinta-feira, no qual afirma que as duas partes concordaram que o acordo de San José servirá de base às discussões.
O plano foi formulado pelo presidente da Costa Rica, Óscar Árias, e propõe, entre seus 11 pontos, a restituição de Zelaya, mas em um governo de unidade nacional.
O comunicado informou ainda que os dois lados aceitassem formar comissões que discutiriam ajustes e atualizações de cada ponto do Acordo de San José sobre os quais pairam divergências.
Os grupos em discussão teriam se comprometido ainda com um novo pacto político e social para o país.
Respaldo externo
Na quarta-feira, após terem se encontrado com Micheletti, os representantes da OEA se reuniram com o presidente Manuel Zelaya na Embaixada do Brasil e com os candidatos à presidência no pleito que está marcado para o dia 29 de novembro.
Sem ter colhido avanços entre os representantes dos dois campos, a entidade pediu que os candidatos pressionassem por uma solução para a crise, caso contrário, aquele que se sagrar o vencedor do pleito, correrá o risco de não ter qualquer respaldo externo, uma vez que a comunidade internacional já afirmou que não reconhecerá o resultado das eleições se Zelaya não for reconduzido ao poder até a data do pleito.
O acordo é difícil. Não resta a menor dúvida, mas isso não impede que continuemos tentando.
Ruy Casaes, representante do Brasil na OEA.
"Há vários indícios de que, se não restituírem o presidente Zelaya a seu cargo o quanto antes, alguns movimentos tornarão impossíveis à realização de eleições limpas e respeitadas por todos", afirmou John Biehl, o assessor especial do secretário-geral da OEA.
O embaixador do Brasil na OEA, Ruy Casaes, que foi o representante brasileiro nas negociações, disse ter visto a negociação de forma positiva, uma vez que foi a primeira vez que as duas facções políticas em disputa em Honduras se reúnem sem a presença de mediadores.
De acordo com Casaes, o tom irredutível de Micheletti pareceu uma tática para o público interno hondurenho. “Nas reuniões internas, ele teve uma postura razoável.”
O embaixador frisou: “O acordo é difícil. Não resta a menor dúvida, mas isso não impede que continuemos tentando”.
Indagado se o insucesso da entidade seria um sinal de sua irrelevância, Casaes afirmou: “Todos os organismo internacional é aquilo que os Estados-membros querem que seja”.
Protestos
O campo zelaysta parecia frustrado com a ausência de um avanço nas negociações. Um dos representantes do líder deposto, o sindicalista Juan Barahona, afirmou que o “debate está em ponto morto”, mas que as negociações irão continuar.
Pouco após a partida dos representantes da OEA, um grupo de manifestantes ligados ao grupo Movimento de Resistência ao Golpe, formado por diferentes grupos sindicais e camponeses, fez um protesto em frente ao Hotel Clarion, que sediou a reunião.
Os ativistas pediam o regresso de Zelaya e chamavam os representantes do governo interino de “cães” e os policiais armados com escudos e cacetetes de “assassinos”.
Houve empurra-empurra entre policiais e manifestantes e alguns ativistas chegaram a apanhar com cacetetes, mas não houve detenções nem incidentes mais graves.
Os ativistas pediam o estabelecimento de uma Assembléia Constituinte, que discutiria a reforma da Carta de Honduras. O tema foi o pretexto usado pelos representantes do governo interino para depor Zelaya e o líder deposto disse ter aberto mão da proposta.

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