quinta-feira, 12 de maio de 2011

Fez-se vingança, não justiça


Leonardo Boff

Não se fez justiça com a morte de Bin Ladin. Praticou-se a vingança, sempre condenável."Minha é a vingança" diz o Deus das escrituras das três religiões abraâmicas. Agora estaremos sob o poder de um Imperador sobre quem pesa a acusação de assassinato. E a necrofilia das multidões nos diminui e nos envergonha a todos.

Alguém precisa ser inimigo de si mesmo e contrário aos valores humanitários mínimos se aprovasse o nefasto crime do terrorismo da Al Qaeda do 11 de novembro de 2001 em Nova Iorque. Mas é por todos os títulos inaceitável que um Estado, militarmente o mais poderoso do mundo, para responder ao terrorismo se tenha transformado ele mesmo num Estado terrorista. Foi o que fez Bush, limitando a democracia e suspendendo a vigência incondicional de alguns direitos, que eram apanágio do pais. Fez mais, conduziu duas guerras, contra o Afeganistão e contra o Irã, onde devastou uma das culturas mais antigas da humanidade nas qual foram mortos mais de cem mil pessoas e mais de um milhão de deslocados. Cabe renovar a pergunta que quase a ninguém interessa colocar: por que se produziram tais atos terroristas? O bispo Robert Bowman de Melbourne Beach da Flórida que fora anteriormente piloto de caças militares durante a guerra do Vietnã respondeu, claramente, no National Catholic Reporter, numa carta aberta ao Presidente:"Somos alvo de terroristas porque, em boa parte no mundo, nosso Governo defende a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos de terroristas porque nos odeiam. E nos odeiam porque nosso Governo faz coisas odiosas". Não disse outra coisa Richard Clarke, responsável contra o terrorismo da Casa Branca numa entrevista a Jorge Pontual emitida pela Globonews de 28/02/2010 e repetida no dia 03/05/2011. Havia advertido à CIA e ao Presidente Bush que um ataque da Al Qaeda era iminente em Nova York. Não lhe deram ouvidos. Logo em seguida ocorreu, o que o encheu de raiva. Essa raiva aumentou contra o Governo quando viu que com mentiras e falsidades Bush, por pura vontade imperial de manter a hegemonia mundial, decretou uma guerra contra o Iraque que não tinha conexão nenhuma com o 11 de setembro. A raiva chegou a um ponto que por saúde e decência se demitiu do cargo. Mais contundente foi Chalmers Johnson, um dos principais analistas da CIA também numa entrevista ao mesmo jornalista no dia 2 de maio do corrente ano na Globonews. Conheceu por dentro os malefícios que as mais de 800 bases militares norte-americanas produzem, espalhadas pelo mundo todo, pois evocam raiva e revolta nas populações, caldo para o terrorismo. Cita o livro de Eduardo Galeano, "As veias abertas da América Latina", para ilustrar as barbaridades que os órgãos de Inteligência norte-americanos por aqui fizeram. Denuncia o caráter imperial dos Governos, fundado no uso da inteligiência que recomenda golpes de Estado, organiza assassinato de líderes e ensina a torturar. Em protesto, se demitiu e foi ser professor de história na Universidade da Califórnia. Escreveu três tomos "Blowback" (retaliação) onde previa, por poucos meses de antecedência, as retaliações contra a prepotência norte-americana no mundo. Foi tido como o profeta de 11 de setembro. Este é o pano de fundo para entendermos a atual situação que culminou com a execução criminosa de Osama Bin Ladin. Os órgãos de inteligência norte-americanos são uns fracassados. Por dez anos vasculharam o mundo para caçar Bin Ladin. Nada conseguiram. Só usando um método imoral, a tortura de um mensageiro de Bin Laden, conseguiram chegar ao su esconderijo. Portanto, não tiveram mérito próprio nenhum. Tudo nessa caçada está sob o signo da imoralidade, da vergonha e do crime. Primeiramente, o Presidente Barak Obama, como se fosse um "deus" determinou a execução/matança de Bin Ladin. Isso vai contra o princípio ético universal de "não matar" e dos acordos internacionais que prescrevem a prisão, o julgamento e a punição do acusado. Assim se fez com Hussein do Iraque,com os criminosos nazistas em Nürenberg, com Eichmann em Israel e com outros acusados. Com Bin Ladin se preferiu a execução intencionada, crime pelo qual Barak Obama deverá um dia responder. Depois se invadiu território do Paquistão, sem qualquer aviso prévio da operação. Em seguida, se sequestrou o cadáver e o lançaram ao mar, crime contra a piedade familiar, direito que cada família tem de enterrar seus mortos, criminosos ou não, pois por piores que sejam, nunca deixam de ser humanos. Não se fez justiça. Praticou-se a vingança, sempre condenável."Minha é a vingança" diz o Deus das escrituras das três religiões abraâmicas. Agora estaremos sob o poder de um Imperador sobre quem pesa a acusação de assassinato. E a necrofilia das multidões nos diminui e nos envergonha a todos.

Filho de Bin Ladin diz que enterro no mar humilha família


Reuters

Uma declaração supostamente divulgada pelo filho de Osama bin Ladin denunciou a morte do líder da Al Qaeda como "criminosa" e afirmou que o seu sepultamento no mar havia humilhado a família, informou um serviço de monitoramento da Internet.

A declaração, atribuída a Omar bin Ladin, quarto filho mais velho de Bin Ladin, disse que os filhos do chefe da Al-Qaeda se reservam o direito de entrar com uma ação judicial nos Estados Unidos e internacionalmente, a fim de "determinar o verdadeiro destino de nosso pai desaparecido", afirmou o SITE Intelligence Group.

Não houve confirmação independente da autenticidade da carta, publicada no site do ideólogo islâmico Abu Walid al-Masri, mas vários especialistas em propaganda militante disseram que o texto parece genuíno.

Omar bin Ladin, que reside no Golfo Pérsico há alguns anos, não respondeu imediatamente aos pedidos por e-mail e telefone para comentar o assunto.

A carta dizia, em parte: "Consideramos o presidente americano (Barack) Obama como legalmente responsável por esclarecer o destino de nosso pai, Osama bin Ladin, pois é inaceitável, humana e religiosamente, dispor de uma pessoa com tamanha importância e status entre o seu povo jogando seu corpo no mar, numa ação que humilha a sua família e seus seguidores e que desafia as regras e os sentimentos religiosos de centenas de milhões de muçulmanos."

A carta afirmou que o governo dos EUA não havia oferecido nenhuma prova de sua missão. Ele alegou que o objetivo da operação era de matar e não prender, acrescentando que depois os comandos norte-americanos teriam "se livrado do corpo às pressas".

Alguns muçulmanos têm dúvidas quanto à morte de Bin Ladin por soldados dos EUA em um ataque no Paquistão em 2 de maio e subsequente eliminação de seu corpo no mar.

As perguntas têm se multiplicado desde que a Casa Branca disse que o líder da Al Qaeda estava desarmado quando soldados dos EUA invadiram por helicóptero a casa onde ele estava escondido, na cidade de Abbottabad.

O enterro imediato de Bin Ladin no mar, que muitos muçulmanos dizem que foi uma violação dos costumes islâmicos, também causou ressentimento.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Um presente de aniversário


O presente de aniversário poético e maravilhoso do Thadeu sensibilizou-me muito.

“Paz, muita saúde e um poema para reflexão nesse dia tão especial. Um grande abraço.”

Vida

um ano a mais

um ano a menos

que diferença faz

quando já somos

mais ou menos

mais suaves

mais sábios

mais fortes

mais justos

e de mais a mais

cromossomos

um ano a mais

um ano a menos

a vida é cais

e lá vão nossos sonhos:

barcos pequenos

um ano a mais

um ano a menos

lendo os sinais

nos esquecemos

e quando nos lembramos

é tarde demais

um ano amais

outro odiais

um ano demais

outro de menos

um ano tanto fez

outro tanto faz

um ano como nunca houve outro

um ano sem pagar e só levando o troco

um ano que vem

um ano que vai

e os mesmos ais

mais amenos

Antonio Thadeu Wojciechowski

17 de abril de 2011.